24/11/2009
Sérgio Cavalieri
Sérgio Cavalieri é presidente da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa de Minas Gerais (ADCE-MG)
A decisão dos Estados Unidos e da China de se recusarem a estabelecer metas claras para a redução de emissão de gases de efeito estufa representa uma afronta à Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas que será realizada em Copenhague. É, ainda, posição que se coloca na mais absoluta contramão do movimento que nas últimas décadas mobiliza a sociedade mundial no objetivo de consolidar princípios e valores éticos que formam o arcabouço do genuíno desenvolvimento sustentável – ou seja, o tipo de desenvolvimento civilizado, capaz de harmonizar o crescimento econômico com as questões ambientais, sociais e culturais, de forma a preservar o planeta que legaremos às futuras gerações.
Vinda de países líderes, como os Estados Unidos, a maior economia mundial, e a China, o que mais cresce, a decisão é um péssimo exemplo para outros governantes, empresários e cidadãos. Deve, portanto, ser repudiada e combatida energicamente, como já o fizeram o governo brasileiro e inúmeras nações.
Está é, também, a posição de empresas, empresários, ONGs e organizações representativas de segmentos da sociedade que, atuando de forma madura e contemporânea, levam a sério a questão da cidadania e da responsabilidade social empresarial. A Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa (ADCE) se inclui entre elas, trabalhando no objetivo de que os valores éticos sejam efetivamente internalizados pelas empresas – no seu estilo de gestão e muito especialmente nas práticas e atitudes do seu dia a dia.
Esta foi a principal mensagem tirada do XXIII Congresso Mundial da União Internacional de Dirigentes Cristãos de Empresa– Uniapac, entidade que congrega as ADCE´s de 26 países, em praticamente todos os continentes. Com o tema “Empresários por um mundo Melhor”, o Congresso, realizado no México, reuniu mais de 1200 participantes e consagrou a liderança global da entidade no tema da responsabilidade social empresarial, não só pela sua abrangência mundial, mas, sobretudo, pela vanguarda e ineditismo das suas propostas. Neste contexto, reafirmou a crença de que a prática do desenvolvimento sustentável é uma missão coletiva entre governos, empresas e organizações diversas da sociedade, de maneira espontânea e decidida, harmonizando, sem sectarismos e sem espertezas, crescimento econômico, meio ambiente e desenvolvimento social, com respeito à diversidade cultural e religiosa dos povos que habitam o planeta.
Para isso, é fundamental que se dissemine uma nova concepção de empresa, onde acionistas e principais dirigentes atuem com coerência e persistência, baseados em valores, e disseminem estas atitudes, ultrapassando as fronteiras de suas organizações e chegando a todos os públicos com os quais interage: governos, comunidades, partidos políticos, clientes, fornecedores e até mesmo concorrentes.
O que deve prevalecer, sempre, é a consciência de que a economia e as empresas estão a serviço do ser humano em uma tríplice dimensão – material, mental e espiritual. Também deve predominar a crença de que a primeira responsabilidade do dirigente empresarial é com a sua família e com a sua empresa, mas que precisa também participar de atividades que são importantes para sua comunidade, seu bairro, sua cidade, seu estado e seu país.
Não se deve alimentar a ilusão presunçosa de que apenas as empresas e seus dirigentes serão capazes de mudar os rumos da economia e do mundo, mas não se deve subestimar a importância de sua participação, pois sem eles isto também não será possível. Um exemplo é a crise financeira, econômica e produtiva que ainda assusta o mundo e que, sem dúvida, resulta de um evidente déficit de valores e da perda de confiança nos agentes econômicos, fruto de um modelo esgotado e que já não funciona mais.
O que a ADCE propõe é um novo capitalismo baseado em valores e centrado na pessoa, onde a dignidade do ser humano esteja à frente do lucro, onde o bem comum se sobreponha ao egoísmo e aos interesses particulares, onde a liberdade de empreender prevaleça, mas que seja exercida com responsabilidade e com justiça. Para aqueles que enxergam, estas são as novas demandas mundiais. Para aqueles que fazem, este é o caminho para a construção de um mundo melhor.