04/03/2010
Sérgio Cavalieri
Sérgio Cavalieri é presidente da Associação de Dirigentes Cristãos de Empresa de Minas Gerais (ADCE/MG)
Além de reafirmar o vigor do regime democrático, a realização das eleições de outubro próximo também representa uma grave convocação à sociedade brasileira. Pela força do voto, teremos a oportunidade de nos posicionar diante de questões fundamentais que condicionam e determinam o tipo de nação que queremos construir. Nosso compromisso deve ser o de edificar um País do qual possamos nos orgulhar no presente e do qual nos orgulhemos por legar as gerações futuras. Neste cenário, à frente de todas as outras, se destaca a questão ética.
Majoritariamente honrada e moldada segundo princípios de patriotismo e civismo, a sociedade brasileira não pode mais aceitar teses forjadas para justificar a falta de ética, a corrupção desenfreada e a mais ausência de compromisso com o País. Não podemos mais admitir a visão fatalista de que o Brasil é assim porque nasceu assim, fruto de uma herança maldita que viria desde os tempos do nosso descobrimento e do perfil de colonização que tivemos. Também não somos uma sociedade que, sempre, quer levar vantagem e está pronta para dar um jeitinho em tudo.
Nosso País, cujo povo tem a qualidade de ser pacífico, está deixando de ser passivo. Começamos o ano com a prisão de um governador em pleno exercício do seu mandato – fato inédito na história do País. Nos últimos anos, a um só tempo, testemunhamos cenas ao mesmo tempo tristes, mas esperançosas, como a prisão de juízes, desembargadores, cassação de parlamentares e até o impeachment de um presidente da República. Lamentavelmente, muitos acabam voltando, quase sempre pela via do voto. São estes os arautos da chamada herança maldita, que, 500 anos depois, insistem em tentar nos convencer de que prevalece na sociedade brasileira a tolerância às transgressões, uma postura cuja gênese estaria na índole dos nossos primeiros colonizadores e dos povos que habitavam a recém descoberta Terra de Santa Cruz.
São ardilosos e a todos tentam cooptar com a propagação de seus condenáveis atos de esperteza, que envolvem grandes infrações às leis, como corrupção, mensalões, propinas. Com isso, procuram minimizar o impacto dos seus crimes e, perversamente, induzir segmentos da sociedade à prática transgressões menores, como comprar e vender sem nota fiscal, adquirir produtos piratas, conduzir veículo acima da velocidade Jogo de Moto Jogo de Tiro permitida, parar o carro em fila dupla, dizer uma pequena mentira aqui outra acolá, jogar lixo pela janela. É uma técnica subliminar sedutora, da qual precisamos nos defender em nome da construção de uma sociedade íntegra e honrada.
Outubro está chegando e é preciso dizer um sonoro basta as todas estas práticas que degradam a ética e desconstroem uma nação. Como cristãos, não podemos nos resignar passivamente a esta sina e, menos ainda, aceitar a condenação de que seremos sempre uma sociedade de segunda categoria, desprovida de princípios fundamentais como honestidade, disciplina, ordem, respeito e retidão. O nosso passado é importante como fonte de lições, mas não para determinar o nosso futuro – até porque se assim fosse não haveria espaço para o sonho e para a esperança que devem nos mover sempre. Como nos ensinaram nossos país e avós, devemos nos dar ao respeito!
Na verdade, devemos acelerar a nossa postura de cobrança por padrões éticos que queremos para o nosso País e, assim, avançar na construção de uma sociedade onde prevaleça a confiança nas relações, o orgulho de ser honesta, guardiã de um tesouro valioso que dará um novo significado para nós e para as gerações que nos sucederão. Indignar-se, é o primeiro passo. Vontade de mudar é o segundo – e para que mudanças ocorram é preciso atitudes verdadeiras e concretas, ação e coragem. Nas eleições que se aproximam, devemos nortear nossas escolhas por duas premissas fundamentais: banir da vida pública aqueles que agem contra a sociedade e escolher líderes comprometidos com valores fundamentais na construção de um País.
Precisamos de líderes que compreendam a importância da educação, da formação e valorização dos educadores. Estes são os responsáveis diretos em promover uma educação de qualidade para as crianças e os jovens – é de cedo que se incute a consciência do certo e do errado, dos direitos e das obrigações, a clara separação entre o público e o privado, a noção de liberdade e justiça, de cidadania e do bem comum. Por seu componente pedagógico, o exemplo é um poderoso instrumento de transformação e deve vir dos líderes nos universos político e empresarial.
Para mostrar que estão a favor das mudanças, os políticos podem começar pela aprovação do projeto “Ficha Limpa”, movimento popular que angariou 1,3 milhão de assinaturas para impedir que pessoas condenadas pela justiça de primeira instância possam de candidatar. Se insistirem em manter sua atual postura, que produz e dissemina maus exemplos, a própria sociedade haverá de expurgá-los por meio do exercício do voto. No campo empresarial e na esfera de competência de sua proposta de atuação, a ADCE/MG trabalha para mostrar que vale a pena ser um líder que atue segundo valores. O objetivo é estimular o engajamento de um número crescente de empresários que enxerguem que o propósito maior do seu trabalho é promover as pessoas e construir uma sociedade mais justa e fraterna, com respeito às leis e ao próximo.